CRONOTIPOS & CRONOBIOLOGIA

 

Segundo o cronotipo de cada pessoa podemos classificar os indivíduos em matutinosintermediáriosvespertinos. Os indivíduos matutinos apresentam preferência por acordar nas primeiras horas da manhã e encontram dificuldades em manterem-se acordados além do seu horário habitual de dormir, enquanto que os indivíduos vespertinos, por outro lado, preferem as horas tardias de ir para cama e acordar especialmente nos finais de semana, apresentam menor tempo de sono durante a semana (devido a compromissos diários) e maior tempo de sono durante os fins de semana (quando compensam o sono semanal perdido). Por isso, o ciclo vigília/sono de vespertinos é mais irregular e tem baixa eficiência. Além disso, vespertinos utilizam mais cochilos durante o dia, compatível com a privação de sono, e apresentam maiores problemas com a atenção, maiores indisposições emocionais e maior consumo de cafeína do que os matutinos.
A distribuição dos cronotipos na população é mais ou menos a seguinte:

Distribuição de 172 indivíduos de acordo com a pontuação no Questionário de Cronotipo. Modificado de Baehr et al., 2000 Journal Sleep Research v.9 p. 121.

Ou seja, a grande maioria da população é intermediária e pequena parcela se enquadra nos tipos matutinos e vespertinos.  Quer dizer que a maioria da população faz parte da classificação dos intermediários? Sim, a maioria da população fica entre os extremos matutinos e vespertinos. Por exemplo, o horário do pico da curva de temperatura dos indivíduos intermediários está entre o horário de pico da curvas dos matutinos e vespertinos. Os intermediários conseguem se ajustar aos horários impostos mais facilmente do que os vespertinos e matutinos.

Curva de temperatura central de indivíduos matutinos e vespertinos ao longo do dia. Observe a diferença nos horários de pico e queda entre as duas curvas. Modificado de Baehr et al., 2000 Journal Sleep Research v.9 p. 124.

Alguns Conceitos de Cronobiologia

Se observarmos nosso comportamento durante algumas semanas vamos perceber que realizamos as atividades cotidianas de forma repetida ou recorrente. Dormimos e acordamos, nos alimentamos, sentimos maior disposição e maior sonolência mais ou menos na mesma hora a cada dia que passa. Acompanhando o ambiente cíclico em que vivemos (basta observarmos  as mudanças entre dia e noite por exemplo) também apresentamos ritmos diários. Normalmente, a noite estamos em repouso (e uma parte da noite dormindo) e durante o dia, em atividade. Esses ritmos são chamados de ritmos biológicos e como exemplos temos o ritmo de temperatura, os ritmos de alguns hormônios e células de defesa sanguíneas e o ciclo vigília/sono. Os ritmos biológicos que se repetem a cada dia ou mais ou menos a cada 24 horas são chamados de ritmos circadianos (circa: cerca de; diano: um dia). Alguns ritmos ambientais como o ciclo dia/noite, são capazes de interferir na organização temporal dos ritmos biológicos, causando o que chamamos de processo de sincronização. O ciclo dia/noite por exemplo, ajuda a fazer com que tenhamos sono à noite e nos mantenhamos despertos durante o dia, ou seja, sincronizados com o ambiente.
Já vimos que podemos diferenciar a população em relação a preferência por determinados horários para realização de tarefas, para dormir, alimentar-se, estudar, trabalhar, praticar esportes e uma infinidade de outras atividades. Certamente você já ouviu a expressão “cada um tem o seu próprio ritmo”. Essa expressão têm fundamento científico e a maioria dos organismos estudados apresentam relógios biológicos. No Homem, a ritmicidade circadiana é controlada por um sistema que inclui, dentre outras estruturas, os núcleos supraquiasmáticos do hipotálamo. Esses núcleos são estruturas neurais que funcionam como marcapasso de todo nosso sistema de temporização. Então, quando dissemos que os ciclo ambientais (como por exemplo, o ciclo dia/noite ou ciclo claro/escuro) sincronizam nossos ritmos biológicos queremos dizer que, antes de mais nada, sincronizam nossos relógios biológicos.
Assim, o sistema de temporização é caracterizado pela geração interna de ritmicidade (com os relógios biológicos) e  recebe influência dos ciclos ambientais externos. A boa interação entre o ritmo interno (ou endógeno) e os ciclos ambientais resulta na ocorrência de ritmos biológicos sincronizados.
Com tanta informação você pode estar confuso (a) afinal relógios biológicos, ciclos ambientais, cronotipos, núcleos supraquiasmáticos, sistema de temporização são termos pouco comuns. Hoje são estudados e sistematizados dentro de um ramo novo dentro das ciências biológicas chamado Cronobiologia. No link http://cronoeach.wordpress.com/ você encontrará maiores informações a respeito desses conceitos.
Questões para Reflexão


Podemos então nos perguntar: se possuímos relógios biológicos, os relógios das pessoas matutinas são diferentes dos relógios das pessoas vespertinas? É possível um indivíduo vespertino ajustar seu relógio e começar acordar cedo todos os dias? Ou vice-versa, um indivíduo matutino ficar acordado todos os dias até mais tarde e acordar 11:00 todos os dias?
Essas e outras questões fazem parte de estudos contemporâneos da Cronobiologia e começam a ter algumas respostas. É fato que uma minoria da população se encaixa nos cronotipos matutinos e vespertinos. Alguns indivíduos vão mais além e se enquadram nos chamados vespertinos e matutinos extremos. Os indivíduos de cronotipos extremos, por não se ajustarem aos padrões sociais exigidos, podem apresentar o que os cientistas chamam de síndromes: assim, existem casos que o indivíduo não consegue dormir antes das 6:00 da manhã e em consequência disso, acorda sempre depois do meio dia. Por outro lado, há pessoas que dormem às 20:00h e acordam as três da manhã. Nesses casos, se estes padrões de comportamento trazem problemas de saúde e freqüentes queixas dos pacientescaracterizam-se os quadros que chamamos de Síndrome da fase atrasada (ou adiantada) do sono.
Estudos atuais mostram que talvez os indivíduos vespertinos tenham um relógio que funcione de forma mais lenta que o relógio dos matutinos. Os pesquisadores para chegarem a tais conclusões colocaram seus voluntários em ambientes em que esses não tinham  contato com os ciclos ambientais externos, expressando assim seus ritmos internos ou endógenos (diferentes daqueles que apresentariam em uma situação normal de exposição aos ciclos ambientais). Daí, comparando os ritmos de temperatura de voluntários matutinos e vespertinos encontraram uma diferença de período do ritmo entre esses voluntários. Por fim, estudos de biologia molecular têm apontado algumas diferenças em genes de expressão rítmica no genoma de indivíduos matutinos e vespertinos, o que nos leva a pensar que a existência de cronotipos diferentes possa ter influência genética também.
No entanto, a questão de até que ponto um matutino pode se tornar vespertino ou um vespertino pode se tornar matutino ainda não está completamente respondida.  Pense um pouco em seu cotidiano e procure aplicar esse conhecimento. Talvez, boas explicações podem ser dadas para àqueles casos em que o aluno dorme de manhã assistindo a aula na classe, para a dificuldade que temos em, por exemplo, acordar um de nossos filhos pela manhã, sendo que os outros já levantam com disposição, para entender o mau humor de alguns que não conseguem ficar até mais tarde em uma festa e, de outros, que tomam o café às 6:30 da manhã sem dizer bom dia pra ninguém antes das 10:00 h. As situações são muitas…
 

O nosso amor é tão bom
O horário é que nunca combina
Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Quando pego o ponto
Ela termina”
 

(Chico Buarque de Holanda)



ARTIGO DO BLOG: DEUS AJUDA SÓ A QUEM CEDO MADRUGA?



 

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Um Comentário


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