Perfil do Aluno e do Professor de Ensino Superior

Ensino

Sou aluno de mestrado do programa de pós-graduação em saúde mental e psiquiatria do IPUB/UFRJ. Comecei a ler os posts do coNeCte pois a minha linha de pesquisa é em neurociências, eletrofisiologia, EEG e controle motor. Acredito que assim como eu, outros participantes do blog são professores e vivenciam situações similares às discritas nesse post e por isso, independente do blog ter um foco mais científico, acho a discussão pertinente. Atualmente trabalho como professor substituto na graduação da UFRJ. Quando eu era estudante, criticava muito o ensino durante a graduação. Discutia muito questões sobre a qualidade dos cursos, sobre professores que fingiam ensinar e alunos que fingiam aprender. Ficava muito triste com professores que faltavam constantemente, que pareciam estar obrigados a ensinar aquela disciplina sem o menor prazer e outras coisas. Meus colegas de classe também eram alvo de crítica, pois a grande maioria deles parecia estar ali apenas atrás de um diploma e nada mais. Como citei no começo do texto, agora eu sou o professor e compreendo totalmente porque certos professores podem ter perdido o gosto de ensinar e porque certos professores também não fazem questão. Comecei esse texto porque estou no meio do mestrado e por mais que tenha muito prazer em ensinar, fico muito frustrado com situações do ambiente em que trabalho e me questiono constantemente se a vida acadêmica é o que eu quero. Vou apresentar certas idéias para discutir com outros colegas educadores.

Percebi durante a graduação e hoje como professor, que o aluno ingressa na universidade com uma visão de ensino que é criada durante toda a educação básica brasileira e permanece no ensino superior. A meta é decorar o que vai cair na prova para conseguir notas e se aprovado no final do período. Não vejo a menor preocupação em grande parte dos estudantes em evoluir como ser humano, de sintetizar novas idéias a partir dos conhecimentos aprendidos durante a graduação, aprendendo de verdade. Observo apenas a mera reprodução de conhecimentos, sem questionamentos ou críticas. Sinto que a imagem do professor como mestre, formador de caráter e agregador de valores se perdeu há muito tempo. Hoje em dia, o estudante tem o professor como um mero prestador de serviços, alguém que fornece informações ao longo de 4/5 anos necessárias para se obter um diploma.

Durante conversas com outros colegas, também constatei certos perfis de professores. O professor da universidade particular precisa ser flexível e compreender a idéia do aluno como cliente: se ele for um professor muito rígido, poderá reprovar muitos alunos, que não vão ficar satisfeitos pela cobrança e irão reclamar com o coordenador ou podem abandonar o curso (menos pessoas pagando mensalidades); se ele for um professor muito relaxado e cobrar pouco, os alunos também vão reclamar. Logo, ele precisa ser o professor flexível, ou seja, não ensina nada de muito complicado, cobra o básico para evitar reclamações ou aumenta um pouco o nível de cobrança, mas fornece trabalhos extras e outros mecanismos para recuperar notas baixas e evitar reprovações. No caso da universidade pública, a história é um pouco diferente. Durante os dois primeiros anos de probatório, o professor tenta ser manter o perfil flexível, mencionado anteriormente, para evitar problemas. Passado o probatório, ele faz a sua escolha: pode ser um professor dedicado, que se preocupa com os alunos, na forma como está passando o seu conhecimento adiante e cobra do aluno independente da possibilidade de reprovação (o problema da reprovação é que um aluno reprovado significa um aluno a mais no próximo período e uma turma ainda mais lotada); pode ser um professor que faz o que bem entender durante as suas aulas, já que não existe a menor cobrança de chefes de departamento ou dos próprios alunos, ou um professor que tenta ensinar alguma coisa, que torce para que os alunos aprendam e leva a vida assim.

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Levantei durante esse pequeno texto algumas questões sobre os alunos e os professores dos cursos de graduação. Sei que apenas uma reforma total da Educação, onde professores receberiam um salário justo, com todas as instituições, desde o primário até a universidade, estruturadas com tudo necessário para um ensino de qualidade e, além disso, um sistema onde o aluno seja estimulado a pensar e sintetizar conhecimentos mudaria o quadro atual. Em relação ao ensino superior, tenho sugestões como uma avaliação dos alunos e dos professores quanto a questões de didática, se o objetivo para aquela disciplina foi alcançado e se não alcançado, o que faltou e o que poderia ser modificado. O ensino particular não pode ter essa visão do aluno como cliente e sim que a qualidade do ensino irá atrair mais alunos e o professor é o maior responsável por essa qualidade. Quanto ao ensino público, deveriam existir formas eficazes de acompanhar o desempenho do professor e punir aqueles que faltam constantemente ou que não tem compromisso com ensino. Aproveito para parabenizar o blog e agradecer pelo espaço para discussão.

Daniel Minc
Bacharel em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Pesquisador do Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora IPUB/UFRJ
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Mental e Psiquiatria (PROPSAM) IPUB/UFRJ
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