O Pênalti Perfeito: Neurociência desvenda um dos momentos mais sublimes do Futebol.

Parece estranho que o desempenho de uma habilidade motora seja encarado como pura sorte, ainda mais quando temos muitas variáveis controladas, como no caso do pênalti.

No momento da cobrança do pênalti a bola deve estar parada sobre uma marca localizada a 11m do gol, o goleiro pode se movimentar somente até o limite da linha de meta,  o tamanho e altura da trave é fixo, tudo padronizado, controlado. Portanto, são poucas as variáveis que podem influenciar o resultado, não dá para simplesmente achar que é uma loteria.

Segundo o neurocientista Ronald Ranvaud, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, estudar o pênalti sob o ponto de vista da neurociência “não tira o glamour que este momento tem no futebol, muito menos o torna um simples tiro ao alvo”, pelo contrário, o pênalti pode ser a representação da máxima habilidade perceptuo-motora de um jogador adquirida através de treino, não sorte.

Veja abaixo um vídeo produzido para o Globo Esporte e uma entrevista em que o experimento da tese de doutorado da Martina Navarro, aluna do Prof. Ronald Ranvaud, é exemplificado.

Outro vídeo aqui.

Para saber mais, acesse o blog do grupo de pesquisa: http://openaltiperfeito.wordpress.com

Adianta treinar para cobrança de pênaltis?

Por Maíra Valle

É do senso comum, tanto no meio futebolístico profissional quanto no meio amador, acreditar que treinar para a cobrança de pênaltis é uma perda de tempo. Entretanto, o neurocientista Ronald Ranvaud, professor da USP, acredita que esta é uma misconception da população (idéia errada acerca de algum fato). Em uma pesquisa que vem sendo desenvolvida por seu grupo, foi verificado que o estresse da partida tem efeito maléfico na hora do pênalti, porém, este efeito pode ser minimizado através de treinamento e também do estado psicológico do atleta. Para o professor, esta crença deve ser oriunda dos torcedores que tentam justificar os craques que falham. Leia abaixo a entrevista com o neurocientista.

O senhor acredita que há alguma relação entre o estado psicológico do atleta e o seu desempenho?

Sobre isso não há a mínima dúvida, claro que sim.

Há alguma prova científica disto?

Em nosso trabalho, em simulação de pênalti no futebol, o estresse induzido pela presença de espectadores participativos e barulhentos (medidas de cortisol salivar, frequência cardíaca, resistência galvânica das mãos etc. confirmaram e quantificaram a indução de estresse pela situação), fez com que mesmo tendo todo o tempo necessário para ver que o goleiro foi para um lado, os voluntários eram incapazes de atingir um desempenho perfeito na tarefa de colocar a bola do lado oposto. Esse é apenas um exemplo, a literatura tem muitos exemplos de efeitos semelhantes.

Se isto for verdade, o fracasso do Brasil na copa de 1998 pode estar relacionado ao abalo psicológico dos atletas causado pelo problema do Ronaldo?

Para poder comentar essa situação, teríamos que saber muito mais do que de fato se passou. Mas que a equipe francesa estava muito bem preparada e o Zidane em dia de graça, é indiscutível. A França jogava em casa, nunca tivera oportunidade dessas de levar a copa… São muitos os fatores, como nos desastres aéreos, a causa não pode ser reconduzida a um único fator, em minha opinião.

No momento da cobrança dos pênaltis há alguma influência da torcida, tanto de forma positiva quanto negativa?

Não consigo pensar em influência positiva nesse momento; eu diria que a torcida, num momento desse só atrapalha…

Há a crença popular de que treinar para a cobrança de pênaltis não gera melhora de desempenho do jogador, o que parece ser um contra-senso. Há alguma verdade nisso?

Sim, nos mais altos níveis existe essa “misconception”, que provavelmente tem sua origem no fracasso de craques, que às vezes erram de modo escandaloso, e até motivação de justificar e proteger tais craques: se for uma loteria, não é culpa deles… Mas essa abordagem só contribui pra aumentar o estresse, induzir assim maior probabilidade de errar, o que leva, evidentemente, à perpetuação da “misconception”…

O treinamento é capaz de reverter o efeito negativo do estresse gerado pela torcida e a pressão na hora da competição?

Claro que sim. Se a abordagem do cobrador for parecida com a de um piloto que tem que posar um caça no convés de um porta-aviões, com mar agitado (e treinou muuuuuito pra isso!), garanto que o desempenho melhoraria!

Qual o motivo das pessoas gostarem tanto dos esportes de maneira geral? Há alguma razão evolutiva nisso?

Claro que sim. A resposta, porém não é banal, requer uma explicação longa. Super resumidamente, podemos dizer que nos identificamos, ao assistir a um evento esportivo, tanto com os atletas individualmente, como com o grupo (time), e executamos, irreprimivelmente, gestos que executaríamos no campo (chutar, saltar…). Por trás disso, tudo indica que há o sistema de neurônios espelho (neurônios que permitem que possamos copiar gestos e ações de outras pessoas), ativos tanto quando a gente executa um gesto como quando a gente vê outra pessoa executar aquele mesmo gesto, com a mesma intenção.

Alguma dica de como o Brasil deve treinar os novos atletas para as Olimpíadas de 2016?

Parece-me uma oportunidade imperdível de incentivar a prática do esporte no país. Há tempo para a descoberta e o desenvolvimento de novos talentos, e acho que isso deveria ser a maior preocupação da preparação para os Jogos de 2016. Muitos outros países que hospedaram os Jogos Olímpicos mostraram o caminho…

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