Por Cleanto Fernandes
Para a ciência, tão importante quanto a pesquisa em si é a publicação dos resultados, geralmente feita em revistas científicas especializadas. Isso permite que cientistas conheçam os trabalhos de seus colegas, aprendam com seus erros e acertos e conheçam suas ideias, mesmo que estejam em lados opostos do globo. No Brasil, professores e estudantes tem acesso gratuito a uma grande quantidade de periódicos científicos através de uma plataforma mantida pelo Ministério da Educação – a Plataforma de Periódicos da Capes. Além dos artigos publicados em periódicos, a ciência também é veiculada por livros. A colaboração e intercâmbio de ideias e métodos estão no cerne da ciência e qualquer coisa que ameace essa comunicação é grave para o avanço científico.
Mas eis que o deputador federal Vicentinho (PT/SP) apresentou à Câmara um projeto de lei que proíbe órgãos públicos de comprar publicações estrangeiras. Espero, e acredito, que tal projeto não tenha êxito. Mas caso fosse aprovado, representaria o isolamento da comunidade científica brasileira da ciência mundial, privando-nos, especialmente, dos avanços conquistados em países com elevado desenvolvimento científico – como EUA, Canadá e muitos países europeus.
A proposta de Vicentinho está na contramão da humanidade, da ciência e, o que é mais surpreendente, do governo federal brasileiro. É oposto ao caminho da humanidade porque esta cada vez mais preza pelo convívio pacífico e cooperação entre os povos; nossas diferenças, antes motivo de separação, agora são vistas como complementares. Vai de encontro à ciência porque esta também tem trabalhado no sentido de colaboração entre pesquisadores de vários países; foi assim que aconteceu, por exemplo, o Projeto Genoma, fruto de um consórcio multinacional do qual o Brasil participou. E esse projeto caminha no sentido contrário do governo brasileiro, que através de medidas como o Programa Ciência sem Fronteiras se esforça pela internacionalização de nossa ciência.
Por fim, quero destacar que a ciência é um patrimônio da humanidade, assim como o são as artes em suas mais diversas formas de expressão: escrita, cantada, esculpida etc. Impor fronteiras à ciência e à arte é perverso. Infelizmente, a ciência já tem suas fronteiras, como a que separa os centros de pesquisa das pessoas comuns. Quando se fala da disseminação do conhecimento, trabalhamos para derrubar os muros que ainda existem, e não aceitamos que novas cercas de arame sejam erguidas.
Biológo e pósgraduando da Psicobiologia – UFRN
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