Como tornar a psicologia (e as outras ciências) mais científicas?

Ganhador do Nobel desafia os psicólogos a replicarem mais seus estudos

Sergio Arthuro (1)

O cientista Daniel Kahneman da Universidade de Princeton, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2002, lança nova polêmica ao afirmar que os psicólogos precisam restaurar sua credibilidade no meio científico através de mais replicações dos seus experimentos. Esta crítica parece afetar não somente a psicologia.

Em um texto recentemente publicado na revista Nature, relata que o professor Kahneman dirigiu-se abertamente para os pesquisadores que trabalham com pesquisa na temática social priming: um estudo de como sinais sutis (ou subliminares) podem, inconscientemente (ou subconscientemente), influenciar os nossos pensamentos e comportamentos. Como exemplos, estão os seguintes experimentos e resultados: 1) voluntários passam a andar mais lentamente por um corredor depois de verem palavras relacionadas com a idade avançada, e 2) os participantes de uma pesquisa se saem melhor em testes de conhecimento geral depois de pensarem e escreverem sobre os atributos que se espera de um bom professor.
Tais testes são amplamente utilizados na psicologia, e Kahneman acredita nos efeitos priming. Entretanto, ele escreve aos psicólogos dizendo que há um “desastre iminente” para o campo, devido a uma “tempestade de dúvida” sobre a robustez dos resultados que envolvem os efeitos priming. Seu ceticismo aumentou depois das falhas recorrentes em replicar os estudos clássicos do priming, e da exposição de trabalhos fraudulentos de psicólogos sociais como Diederik Stapel, Smeesters Dirk e Sanna Lawrence. “Por todas essas razões, esse campo agora é uma garota-propaganda para dúvidas sobre a integridade da investigação psicológica. Eu acredito que os psicólogos devem coletivamente fazer algo sobre isso.”, escreve Kahneman.
A principal preocupação de Kahneman é com os estudantes de pós-graduação que realizam pesquisa sobre priming, pois os mesmos podem achar que será difícil conseguir uma vaga para trabalhar em alguma instituição de pesquisa, depois deles serem associados a um campo que está sendo visivelmente questionado. Na mesma linha de pensamento, está Hal Pashler, psicólogo cognitivo da Universidade da Califórnia (San Diego), que diz que vários grupos, incluindo o seu, já tentou replicar alguns resultados do priming, mas não foram capazes de reproduzir qualquer um dos efeitos.
Para resolver este problema, Kahneman recomenda que os psicólogos sociais estabeleçam uma “rede de replicações”: cada laboratório tentaria replicar um efeito priming demonstrado por seu vizinho, sendo supervisionado por alguém desse laboratório. Ambas as partes registrariam cada detalhe dos métodos, e se comprometeriam de antemão a publicar os resultados, além de deixar também todos os dados disponíveis (online e aberto) para qualquer um baixar e analisar.
A crítica de Kahneman não pode ficar restrita a psicologia, sugiro que este sistema deve ser seguido por todos os campos da ciência, que é caracterizada formalmente pelo seu método, baseado na replicação (ou reprodutibilidade), pela possibilidade de testar as hipóteses (suposições), que por sua vez originam previsões. Quando essas são confirmadas (ou refutadas) tem-se o progresso científico. O método científico permite uma solução criativa para a resolução de problemas, minimizando também um possível viés subjetivo dos participantes do trabalho. Dessa forma, quanto mais pesquisadores de diferentes laboratórios, em diferentes partes do mundo, chegarem ao mesmo resultado, mais próximos estamos do que realmente acontece conosco e com o universo em que vivemos…
Para facilitar esse processo, também acredito que todos os dados devem ser públicos (online e abertos). Isso deve acontecer por questões de: a) princípio, com aquelas pesquisas que são financiadas com dinheiro público (grande maioria), e b) segurança (transparência), com as pesquisas que são pagas pela indústria farmacêutica, ávida por lançar novos medicamentos no mercado para aumentar seus lucros, e não pelo bem da humanidade. Quem já assistiu ao filme “O jardineiro fiel” do brilhante diretor brasileiro Fernando Meirelles sabe do que estou falando, e para quem não assistiu, fica a dica!
Acredito também que não somente os dados, mas também as revisões dos artigos devem ser públicas, o que diminuiria a falta de ética de alguns editores, tais como: só querer publicar o que fala a favor da sua teoria, não querer publicar um trabalho bom, mas de um laboratório “concorrente“ etc.

(1) Médico, doutor em Psicobiologia e divulgador científico

Sugestão de Leitura

Yong, E (2012). Social-priming research needs “daisy chain” of replication. Nature, October 3.

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