Drogas aprovadas (e reprovadas) para obesidade

Interação complexa de fatores genéticos, ambientais e culturais explica a epidemia

Sergio Arthuro (1)

A consequência adversa da obesidade para a saúde envolve todos os órgãos e sistemas do corpo, contribuindo para o aparecimento de doenças crônicas e reduzindo a qualidade de vida. Por isso, vários tratamentos farmacológicos estão sendo desenvolvidos para diminuir o acúmulo de gordura. Porém, diversas destas drogas foram recentemente tiradas do mercado por produzirem efeitos colaterais sérios. Agora, duas novas drogas foram aprovadas nos EUA. Todavia, o tratamento de adultos obesos com estas drogas só é eficiente quando se realiza uma dieta com restrição calórica associada a exercícios físicos.
A obesidade é definida pela presença de um índice de massa corporal acima de 30 (o sobrepeso é acima de 27) – que é calculado pela divisão do peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros), junto com pelo menos uma doença relacionada ao excesso de peso. As novas drogas que foram recentemente aprovadas nos EUA apresentam mecanismos de ação diferentes. Uma é uma droga que simula a ação da serotonina, já a outra é uma combinação de um simpaticomimético anorexígeno (ou seja, que estimula o sistema simpático e diminui o apetite) com uma droga antiepiléptica. Ambos os medicamentos reduzem o apetite e, em algumas pessoas, induzem um balanço energético negativo.
Nos ensaios clínicos, ambas as drogas promoveram perda de peso clinicamente significativa. Nestes testes que duraram um ano e que foram controlados com placebo, os participantes também receberam instruções para modificação no estilo de vida, fazendo dieta e exercícios físicos. Além disso, comparado com o placebo, o tratamento com as drogas causou alterações favoráveis em parâmetros cárdio-metabólicos e antropométricos (como pressão arterial, colesterol e circunferência abdominal). Ambas as drogas também melhoraram aqueles que tinham diabetes tipo 2 dos voluntários com excesso de peso e obesos.
Uma grande preocupação com relação a segurança de uma desta drogas inclui teratogenicidade (nome técnico para as malformações do desenvolvimento do corpo) e elevações da frequência cardíaca de repouso. Pois, dados preliminares sugeriram que as mulheres que receberam topiramato (um dos componentes da droga) durante a gravidez estavam mais propensas a terem bebês nascidos com uma fenda orofacial, o que foi corroborado por um estudo epidemiológico adicional. Além disso, sabe-se que estas drogas podem aumentar o risco de desenvolvimento de doenças psiquiátricas e alterações cognitivas, decorrentes dos efeitos no sistema serotonérgico. Esse sistema está intimamente envolvido nos transtornos do humor, como na depressão, já que uma das principais classes de antidepressivos tem como função aumentar a quantidade de serotonina disponível para os neurônios. Isso nos faz refletir sobre a relação entre alimentação e depressão…
Particularmente, o que me deixa mais deprimido é dormir pouco para ter que acordar cedo. Mas para a maioria das pessoas, a fome é o que as deixa mais tristes. Porque isso acontece? Com certeza, comer e dormir são instintos primários, sendo diretamente relacionados com a sobrevivência do ser, assim como a reprodução é um instinto primário para garantir a sobrevivência da espécie. A questão é que para muita gente, o ato de comer é a única fonte de prazer. Assim, acho que uma parte dos obesos se tornaram dependentes de comida, e merecem ser tratados de forma digna porque são doentes, e não porque são fracos ou preguiçosos.
Outra preocupação é o uso dessas drogas pelos que querem perder uns quilinhos por razões estéticas: como têm efeitos colaterais e são usadas a longo prazo, é importante serem limitadas aos que realmente precisam.
(1) Médico, Doutor em Psicobiologia e Divulgador Científico
Sugestão de Leitura
Colman, E., Golden, J., Roberts, M., Egan, A., M.P.H., Weaver, J., Pharm, D. & Rosebraugh, C. (2012) The FDA’s Assessment of Two Drugs for Chronic Weight Management. The New England Journal of Medicine 367(17), 1577-1579.

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